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JC e-mail 3163, de 14 de Dezembro de 2006.
Pequena Empresa do Ceará criada após doutorado na USP ganha Prêmio Finep de Inovação Tecnológica
Nuteral começou atividades no Padetec em 1992 para realizar "sonho de todos doutores"
Flamínio Araripe escreve para o "JC e-mail":
A Nuteral, empresa de biotecnologia da área de nutrição humana, ganhou o Prêmio Finep de Inovaçao Tecnológica 2006, entregue na terça-feira, dia 12/12, pelo vice-presidente da República, José Alencar, em solenidade no Palácio do Planalto.
O empresário Augusto Guimarães, nutricionista, fundador e presidente da Nuteral, informou que investe este ano 26,4% da receita em pesquisa e desenvolvimento e no recente triênio cresceu 40% no faturamento.
"Sou talvez o sonho de todos os doutores formados na academia brasileira", disse Guimarães ao referir o trabalho desenvolvido há 14 anos na empresa, que começou incubada no Padetec, em 1992.
"A história da Nuteral é embrionariamente uma historia da academia", informou, ao relatar que fez doutorado na USP em 1992. Ao voltar para a Uece, onde é profesor titular de Nutrição, recebeu o desafio do superintendente do Padetec, Afrânio Craveiro, para se tornar empresário.
Hoje, a Nuteral tem sete patentes ativas, seis em processo de registro, uma linha de 46 produtos no mercado e lançou 10 marcas em 2005-2006.
"O que fazíamos no curso de doutorado não tinha aparentemente nada a ver com a atividade empresarial. Trabalhávamos com ácidos graxos estudando os efeitos dos óleos sobre a resposta imunológica", disse o pesquisador-empresário.
Em 1993, a tese de Guimarães recebeu o prêmio USP de pós-graduação. "Basicamente toda a minha história foi em bancada de laboratório identificando membranas, trabalhando com linfócitos, com macrófitos". O pesquisador trabalhava na USP para identificar os ácidos graxos e estudar os mecanismos de ação do consumo de gordura sobre a resposta imunológica.
"Somente depois do doutorado consegui descobrir: o que nós consumimos de gordura à mesa tem importante efeito sob o ponto de vista de prevenção das doenças, do aumento da expectativa de vida e do tratamento das doenças crônicas em situações clínicas de pacientes hospitalizados ou não", disse Guimarães.
Para ele, "o exemplo da Nuteral é um incentivo aos pesquisadores no Brasil a tirar as suas teses das prateleiras e fazer com que possam de fato transformar em produto agregando valor econômico e valor social ao país".
A partir de 1993, depois do pós-doutorado na Universidade de Oxford, Guimarães conta que resolveu aceitar o desafio e partir para a atividade empresarial. Segundo ele, o nicho do negócio da Nuteral são os produtos nutricionais especializados, os chamados medical foods.
"Quando começamos em 1993, o Brasil era absolutamente dependente das importações. Nesta área, o país pagava cerca de US$ 145 por quilo de produto nutricional para nutrição enteral".
"O primeiro desafio foi desenvolver um produto para pacientes graves. Fizemos isso iniciando a nossa estrutura industrial em um espaço de 50 metros quadrados, e com uma dívida de aproximadamente R$ 250 mil. Pode parecer pouco mas é bastante para um professor universitário cujo capital era só um carro usado", relata Guimarães.
A Nuteral tem capacidade instalada de produzir 120 mil quilos de produtos por ano, no modo preconizado pelas Boas Práticas de Fabricação de Produtos e Controle de Qualidade. Em 2005, criou um Instituto de Tecnologia para fazer pesquisa e desenvolvimento na Nuteral, e interage com pesquisadores do ICB-USP (Rui Curi), UFPR, UFC, Uece e de institutos nos EUA, Irlanda e Inglaterra.
Os mercados alvos da Nuteral são as doenças Alzheimer, Aids, oncologia, cardiopatias, desnutrição, obesidade e alergias alimentares.
Conforme o empresário "as grandes áreas de atuação da Nuteral envolvem processos de digestão de alimentos, com atuação nas doenças infecciosas intestinais, diabete e constipação. Incluem o efeito dos nutrientes sobre a resposta imunológica, imunologia de alimentos, os efeitos biológicos dos nutrientes bioativos, os processos corporais, a área de mecanismo basal e os ingredientes nutricionais básicos que envolvem a área de ciência de alimentos e nutrição".
No mercado, a atuação abrange a área de nutrição clínica, o uso de nutrição por via enteral, que é a colocação de sonda gástrica nos pacientes impossibilitados de consumir alimentos por via oral.
"Há 10 anos não se sabia no Brasil o que é alimentação enteral. Hoje, temos 16% dos pacientes internados com indicação clínica de nutrição enteral, que já consomem nutrição enteral, apesar de que no Brasil temos 40 milhões de pessoas que não consomem sequer proteína".
A nutrição enteral é um negócio que em 2002 movimenta nos EUA U$$ 1,2 bilhão com 2 milhões de pacientes hospitalizados ou em home care, com o tempo médio de utilização de 21 dias por paciente/ano, explica Guimarães.
O nicho é atendido por dietas para pediatria, pacientes renais, dializados e com úlcera de pressão. Em 2000, a Nuteral lançou a primeira dieta de alta hospitalar, Reabilit, com patente registrada, que substitui os tradicionais sucos e papinhas dos pacientes idosos que chegam em casa e a família não sabe como alimentar, diz Augusto Guimarães. O produto possuiu quatro versões para imunologia, câncer, hipertensão e diabetes.
Outra inovação lançada este ano para anorexia, doenças nervosas relaciodas a alimentação ou pacientes idosos, é o MaxSperse, o primeiro espessante brasileiro, com tecnologia nacional. Está sendo preparada para lançamento uma linha de dietas Nutranon, na qual desde 2006 a empresa investe mais de R$ 2 milhões na tecnologia de processo e na expansão da capacidade industrial para os próximos dois anos. São previstos produtos com fibras (Neofiber), para pacientes com diabetes e outros.
"Lançamos a linha Nuteral Balance, o primeiro produto para controle de peso com restrição calórica cuja finalidade não é tratar a obesidade em si, mas tratar das enfermidades relacionadas com obesidade, diabetes, hipertensão e as displidemias", disse Guimarães.
O processo de comercialização também é uma inovação, desenvolvida via mecanismo de venda com exclusividade por nutricionistas, assinala.
O fato de Augusto Guimarães ser formado em nutrição foi aplicado na estratégia de posicionamento da empresa, que desenvolveu e registrou a marca "De nutricionista para nutricionista", criando o canal de comercialização dos produtos Nuteral Balance com as nutricionistas.
Das 40 mil nutricionistas no Brasil, cerca de mil já aderiram e receberam certificação, com estímulo a desenvolver atividade empreendedora.
"Esta ferramenta garante que o nosso cliente da ponta, quando tiver consumindo o nosso produto tenha de fato a indicação clínica correta do nutricionista. Esse produto tem um diferencial importante no nosso negócio", disse o empresário. O projeto está 100% na plataforma web, no site www.nuteralbalance.com pelo qual o nutricionista é convidado a entrar no negócio e recebe a certificação.
Na linha de responsabilidade social, para 2007, Guimarães relata que vai lançar o primeiro produto para desnutrição infantil, o Nutty. O projeto, diz ele, remonta ao doutorado pela USP com preocupação social pelo fato de que à época a fome matava 170 crianças por cada mil nascidas vivas no Ceará.
"Envolvido pelo sonho de ajudar as pessoas mais pobres do meu estado, investi dois anos no Padetec num produto chamado IntegralMix. Depois de dois anos, entendi que desnutrição não se trata com produto nutricional, mas com políticas", afirmou o empresário. Sem ter efetuado vendas, a Nuteral retirou o produto do mercado. Em 1999, em trabalho na London School, Guimarães conta que participou de reunião da Organização Mundial da Saúde (OMS). De volta ao Brasil, apresentou projeto à Finep e foi apoiado para fazer desenvolvimento tecnológico das fórmulas da OMS contra desnutrição infantil.
O produto recebeu comprovação clínica em tese de doutorado na Escola Paulista de Medicina, de Raquel Tasca. Em 2007, o Nutty vai estar disponível num site na Internet, onde será comercializado a preço de custo, observa o pesquisador. Pelo site, as pessoas que quiserem fazer uma doação a um organismo internacional, a uma ONG no Brasil, poderão fazer a compra direta e o produto será entregue à instituição que cuida de crianças em qualquer lugar do Brasil.
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